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A torto e a Direito <$BlogRSDURL$>

quarta-feira, março 31, 2004

Promessa 

escrevo de rajada. algumas gralhas escapam-me. fica a promessa de me autodisciplinar na matéria.
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Divagações 

Que raio de noite esta. Chove a cântaros, o vento entra janelas adentro e só me dá para lamentar estar no Porto. Melhor dizendo, em Matosinhos. Norte, como à plebe compete. Deveria estar aqui a sofrer as agruras da ausência de inspiração e eis-me a escrever sobre nada. Já sei, já sei. Mas o meu futuro não está na política. Já não tenho idade nem paciência para iniciar um percurso partidário, lamber as botas ao dito aparelho, comer as passas do algarve - muito gostava de saber o que estas têm de especial para serem tão famosas - e, muito menos, aturar comícios ou reuniões desta, daquela ou de outras comissões. Já dei para esse peditório. Tem isto a ver com o facto de me apetecer o mar. Melhor dizendo, quase sempre me apetece. Mas, por razões que não me apetece detalhar, reaprendi a gostar do norte. Eu que sou do tempo em que, sempre que chovia forte, não havia maneira de sair dos Olhos d'Água, ali para os lados de Albufeira. E não havia praia dos tomates e o Sleeping Donkey era de um bife com uma mulhar lindíssima. Lembrei-me do nome. Gladys. Depois, muito antes do Rui Veloso, adoptei o Alentejo. E Porto Covo, pois claro. Antes de ser freguesia... Acampávamos na praia. Agora, quarto, cama de lavado, WC privativo, room service, "frigobar", cabo e net. Outros tempos, outras vontades. Agora, Moledo forever. Onze meses no ano, que Agosto é muito poluído...
PS: voltarei lá, ao Alentejo, muito em breve. apetece-me rever amigos que não sei se são vivos. e o migas, ali para os lados de sines. uma culinária imperdível e uma simpatia a toda a prova...
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bloguemos irmãos 

Habitualmente, em termos profissionais, estas noites de terça-feira eram torturantes. Porque era a altura de escrever o meu comentário semanal num dos diários portuenses. O que, hoje em dia, e num retrocesso particularmente curioso, representa uma árdua tarefa. Porque os jornais, hoje, como na década de setenta e, depois, oitenta estão engajados. Para espanto meu, e ao contrário de tempos de antanho - muito mais límpidos -, não a correntes/projectos ou ideologias, mas sim a pessoas. Todas do mesmo partido, é certo, mas apenas a pessoas. Foi por isso que quando um dia afirmei, documentado, que o primeiro-ministro tinha mentido, me corrigiram a "mentira" para "faltar à verdade". pudor delicioso, mas intelectualmente corupto. De uma outra vez, porque disse não gostar de determinado presidente de câmara, caiu o "carmo e a trindade". E, semana após semana, de cada vez que comentava algo em sentido contrário à linha oficial, lá levava com os remoques de alguém que se permite escrever cinco vezes por semana. a gota de água surgiu há pouco. o dito senhor, cobarde, e sem me nomear, entendeu reponder-me com uma alegada ironia, própria de alguém com pouca inteligência. (Como a ironia e o cinismo são artes não acessíveis a todos, só mesmo aos mais cultos e inteligentes, decidi calar a minha voz. Até porque a desigualdade de armas a isso me leva.) Não comentei o dito, já que não o leio. Ele sim, lê-me religiosamente. Sou paciente. Os tempos mudam e de quem durante anos se não ouviu falar - por inexistente - levará a devida resposta. para já, serei exclusivo deste blog, o que exigirá um intolerável esforço à paciência dos eventuais leitores. esta é uma mensagem quase particular, mas não ficaria de bem comigo se a não produzisse. Vamos a ver se dentro de minutos me volta a inspiração...
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terça-feira, março 30, 2004

Eis pois uma estreia 

Um blog, por excelência, é um lugar de diálogo. Não importa a idade, sexo, filiação clubística, eventualmente partidária, afinidades ideológicas ou outras. Entendamo-nos desde já. Discuto tudo, mesmo tudo, excepto preferências sexuais.
E assim começo pela sacrossanta economia. Mais de metade das empresas portuguesas não pagou impostos em 2003. Dado adquirido e confirmado pelo nosso fisco. Pergunto eu: então como pagam, se pagam, os vencimentos aos empregados? Se declaram prejuízos ou lucros nulos, como sobrevivem? A resposta é fácil mas, politica e socialmente, incomodativa: perguntem à C. Santos, à Salvador Caetano & Baviera e à Siva quantos popós venderam aos gerentes das ditas firmas...
E às imobiliárias quantos apartamentos de luxo terão vendido aos ditos gestores... Não pensem que isto é demagogia. Não é. É pura inveja. Tivesse eu possibilidades, leia-se capital, e a nossa ministra das Finanças mai-lo (tão cristão que me medo) ministro do Trabalho, veriam os meus impostos pagos em Bora Bora ou noutro lado qualquer.
Mudemos de assunto: um casal divorciado com três filhos paga menos impostos que idêntico par, casado, em coabitação e com o mesmo número de descendentes. Uma vez mais parabéns ao nosso cristianíssimo ministro.
O primeiro, algures no hemisfério sul, acha que Portugal está deprimido. Foi dizê-lo numa cidade que conheci Lourenço Marques e onde vivi, já Maputo. Durão foi contagiado. Terra bendita, África. Não sei se é do clima ou das gentes. Dos dois é certamente. Pena é que o dito primeiro nada faça por nós. Valha-me a secreta esperança do "santo totoloto". Fica aqui a promessa de ajudar alguns próximos em caso de prémio máximo. Só alguns (que totó posso ser, estúpido não) não me substituirei nunca ao Estado. Mas com uma exigência. Tratem de passar a fronteira...
Passemos, agora, a matéria mais alegre. O futebol. Pois, que sendo andrade, não de nome e filiação como um frequentador deste "sítio", o meu clube soma e segue. Diz-me voz amiga, embora vermelhusca (de vergonha) que o golo do "meu/nosso/vosso/deles" FCPorto nasceu de uma falta inexistente ou, a ter existido, seria para o outro lado. Está bem, aceito. Por não ter visto. Mas, e o Sporting? Aquilo sim. No último minuto, frente a uma equipa de calibre europeu, em casa, que diabo... A lagartada está de parabéns. Jogou bem, frente a uma vasta audiência, suou as estopinhas e vinha, certamente cansada, de uma jornada europeia ou da Taça de Portugal. Contra o Macedo de Cavaleiros, lembram-se (?), prestes a entrar na Taça Intertoto da próxima época. Claro que, de partida para Moçambique com o nosso primeiro, Dias da Cunha voltou a falar das arbitragens. Já agora, como está o processo da camisola rasgada e onda pára o malfadado vídeo?
Hoje [ontem] Dias Ferreira, advogado, irmão de Manuela Ferreira Leite, ex-dirigente de Alvalade, voltou a penitenciar-se pela exibição do "seu" Sporting... É, em definitivo, um clube de torturados...
PS: O canal História da TV Cabo passa a desoras os momentos de glória da segunda circular. Os dos "remendados" ali para o Foco ainda não são suficientemente antigos.
Nota final: ao patrono e ideólogo deste blogue peço, encarecidamente, que não me envergonhe publicamente. A amizade é nossa. Não é partilhada. Quanto ao resto, "respeita" a minha "vetustez". E obrigado pelo convite. Não imaginas, imaginam, o que poderá vir a seguir...
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segunda-feira, março 29, 2004

I don't close the file 

É com um enorme prazer que, a partir de hoje, tenho um novo colaborador no Blog. Devo confessar, porém, que não é um colaborador qualquer. É sim, e antes de mais, um Grande Amigo (as maiúsculas são propositadas e para ficar) - e cunhado -, que aceitou prontamente o convite para aqui irmos comentando o que a torto e a direito se vai passando com o fluir dos dias.
Não esperem, e ainda bem, ideias totalmente coincidentes: duas cabeças, dois pensamentos distintos.
Mas sempre, Amigos. Obrigado Jorge.
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Até que enfim 

Finalmente, já que a sorte protege os audazes - salvo seja -, eis-me participante neste blog amigo. De amigos para amigos. Inimigos também serão bem vindos, já que, não raro, me apetece zurzir alguém...
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sexta-feira, março 26, 2004

Mad Dog e o seu pernicioso arrependimento 

Foi um momento estupidamente histórico, o de ontem. Mad Dog, como lhe chamou Ronald Reagan, ou simplesmente Muammar Kadhafi, o coronel, deu um aperto de mão simbólico ao primeiro-ministro britâtico Tony Blair. Foi num cenário verdadeiramente bizarro e exótico, no interior de uma tenda beduína, que Mr. Blair protagonizou o dito.
Numa breve resenha e esclarecimento históricos, cumpre dizer que este senhor beduíno chegou ao poder do Governo libanês em 1969, através de um golpe militar que o depôs o rei Idris. Acumulando, como seria de esperar, as funções de comandante-chefe das Forças Armadas e presidente do novo corpo governativo da Líbia, introduz de imediato uma política de nacionalizações, dentro do chamado socialismo islâmico. Reprimindo criminosa e violentamente os que a ele se opunham, manda fechar as bases militares norte-americanas e britânicas existentes no país e expulsa as comunidades judaicas.
Kadhafi vai-se tornando, paulatinamente, uma das personalidades mais problemáticas do nosso tempo, com sucessivos atropelos aos mais básicos e elementares princípios do Direito Internacional. Reflectindo as suas pretensões subimperialistas regionais, assume como natural a ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, participando em vários golpes de estado fracassados no Egipto e no Sudão, como se não tivesse problemas suficientes na sua casa. Não satisfeito, impõe a participação das suas tropas na guerra civil do Chade.
Ao longo do tempo foi financiando despudoramente grupos extremistas de diversos países, que se encarregaram de desencadear desenfreadas operações de terrorismo no Ocidente, em especial contra o seu arqui-inimigo de sempre, os Estados Unidos. É neste contexto que Mad Dog aparece directamente ligado ao maior atentado terrorista na Europa, quando um avião da Pan Am explode sobre a localidade escocesa de Lockerbie (daí o nome porque é conhecido este atentado), matando 270 pessoas inocentes, a maior parte das quais americanas e britânicas. O seu nome está também ligado ao atentado numa discoteca berlinense, frequentada mormente por soldados norte-americanos. Acrescente-se ainda, por mera e pura curiosidade, que o Reino Unido cortou relações com Kadhafi em meados da década de 80, depois de uma mulher polícia britânica ter sido morta friamente a tiro, no exterior da embaixada líbia em Londres.
Pois é este mesmo senhor, protagonista de um deboche de sangue e terror irracional, que é agora tratado por "honourable" pela principal figura do Governo britânico, que não exita em apresentá-lo, não ironicamente, como "parceiro contra o Terrorismo". É um ministro deste mesmo senhor, um tal Mr. Shagam, que à pergunta de um jornalista inglês - "And what about Lockerbie, do you accept responsibility?" - responde hipocritamente "We close the file".
Ficamos a saber que com um simples e criminoso "close the file", é possível a negociação, solução apresentada aqui há dias pelo Dr.Mário Soares, com tamanho terrorista. Deixemo-nos de meias-palavras ou pudores politicamente correctos:o que se passou foi um episódio trágico verdadeiramente vergonhoso. Ou o mundo civilizado (sem medo da expressão), seja ele branco, negro, vermelho, amarelo ou às pintinhas cor-de-rosa quer pôr fim e ir verdadeiramente ao fundo da questão ou não quer. Não é mais legitímo continuar a fingir que se tenta estabelecer a paz, enquanto as multinacionais, patrocinadas pelo Governo libanês, das armas, do petróleo, dos diamantes e afins continuam a apostar nas guerras e no terrorismo. Ou se vai à raíz do problema, ou se encontra maneira de o atacar de frente. De facto, impressiona-me profundamente tratar dirigentes como o Sr. Kadhafi como se fosse um legítimo e correcto estadista, fingindo acreditar nas suas palavras vãs e ocas de arrependimento. Urge ensinar ao coronel beduíno que o dinheiro não compra tudo - não é, jamais, legítimo matar e, a seguir, como se tratasse de uma qualquer conta de supermercado, pagar-se as indemnizações às famílias das vítimas, como fez o dito em relação ao atentado de Lockerbie.
É preciso, isso sim e com urgência, tratá-lo como um sem escrupúlos, como um fora-a-lei internacional. Reconhecê-lo como terrorista. Tomá-lo como res non grata. Assumir, através da ONU, e sem medo, o direito à ingerência diplomática e militar. Proibi-lo de circular no mundo.
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Para ler e reler... 

Para colocar o nosso orgulho lá no alto, aqui vão algumas frases da imprensa francesa, rendida a "uma das melhores equipas europeias" (Le Figaro).

"Lyon com um pé de fora"
L'Équipe

"Mestres da bola, os portugueses mantiveram Coupet e a sua defesa sob pressão constante do primeiro ao último minuto. Sem arrogância mas com uma continuidade logicamente recompensada"
L'Équipe

"O campeão português tem uma posse de bola sem igual"
Le Progrès

"Para continuar em prova, o OL tem de recuperar dois golos a uma equipa que é tão boa, senão melhor, no exterior como no seu estádio"
Le Monde

"Lyon secado no Porto"
Libération

"Os quartos-de-final da Liga dos Campeões também servem para situar os clubes franceses na hierarquia continental. Nesse sentido, o Lyon reprovou no seu primeiro exame de admissão"
Libération

"Um Porto de gosto amargo"
Le Figaro

"O Lyon mostrou os seus limites"
Le Parisien

"Deco pegou no leme e fulminou os franceses"
Marca

"A equipa de José Mourinho está bem posicionada para atingir as meias-finais pela primeira vez em dez anos"
Site da UEFA

"Apesar das dificuldades, o FC Porto recusou alterar a táctica e manteve o domínio com o seu estilo de passe pensado, quase hipnótico"
Agência Reuters

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quarta-feira, março 24, 2004

O topo da Europa 

O F.C. Porto confirmou ontem que é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores equipas a jogar futebol, na actualidade, a anos luz de qualquer equipa portuguesa e a umas pedaladas valentes de distância da maioria das grandes equipas europeias. Ricardo Carvalho confirmou que está entre a elite da elite dos defesas centrais - na Europa do futebol, só vislumbro mais dois ou três como ele. Mourinho confirmou que não é um bom treinador, nem sequer um excelente treinador - é, simplesmente, um fora-de-série.
Este F.C.Porto que o mister Mourinho conseguiu construir, com um orçamento incomensuravélmente menor que um qualquer colosso europeu, é, de facto, praticamente imbatível no Dragão e dificílimo de bater fora de portas. Com uma humildade e empenho que assustam, esta equipa está a conquistar, finalmente, o respeito e admiração do mundo do futebol.
Digo-o sem complexos - o F.C.Porto está a dar, paulatinamente, passos de gigante rumo ao topo da Europa. Fico à espera...

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As portas do Inferno 

"TERRORISMO - conjunto de acções com o propósito de destruir indistintamente pessoas e bens, criando terror e insegurança."
Esta é a definição clássica de Terrorismo. Se não se aplica ipsis verbis , aplicar-se-á, sem dúvida, no seu conceito, ao ataque aéreo israelita que matou o xeque Ahmed Yassin. Este atentado é absolutamente inadmissível, intolerável e inqualificável, tão ou mais que o 11 de Março, em Madrid. De facto, estamos na presença não de um atentado perpetrado por um qualquer grupo terrorista movido por um qualquer interesse político-religioso, mas sim de um atentado organizado, pensado e mobilizado, a frio, por um Governo de um Estado, que será tudo menos civilizado. É o que podemos chamar, sem medo, "terrorismo de Estado". Matar, é já de si um acto inqualificável. Matar para criar o medo, é de todo intolerável. Matar por matar, ainda para mais quando o protagonista é um Estado, então a questão assume contornos incomparavelmente mais gravosos.
O xeque Ahmed Yassin, 67 anos, 2ª feira morto ao amanhecer num ataque de um helicóptero israelita em Gaza, era o fundador e guia espiritual do movimento palestiniano radical Hamas. Não nos iludamos, porém, com a figura do velhinho piedoso em cadeira de rodas, que alguma comunicação social tentou passar. O senhor em questão, assumo, não era, nem de perto nem de longe, flor que se cheirasse. Muito pelo contrário, foi o responsável directo por dezenas de atentados anti-israelitas. No entanto, jamais um Estado, que se proclama de Direito, pode fazer, nestes termos, justiça pelas próprias mãos. Era o que mais faltava!
Tenho como certo, também, que a Casa Branca não é inocente neste atentado, apesar de dizer inconscientemente que nada sabia - "Israel tem o direito de se defender", disse Sean McCormack, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Esquece-se o senhor "conselheiro", certamente por impudica "ignorância", que a defesa, quando legítima, além de ser sempre uma última ratio, obedecerá sempre ao princípio da proporcionalidade e à actualidade e eminência da agressão. Se estes pressupostos são conceitos vãos para os grupos terroristas, não o podem ser para um Estado que se proclama, repito, de Direito.
Israel, segundo o seu ministro da defesa Shaoul Mofaz, vai continuar a sua infame política de "liquidações terroristas", supostamente com o intuito de enfraquecer o Hamas. Pois, parece é que o objectivo do Governo israelita terá exactamente o resultado oposto, como era, aliás, de esperar. O novo líder do Hamas, Al-Rantissi, advertiu terça-feira que os israelitas "não conhecerão a segurança" e apelou ao "braço armado" do movimento para "dar uma lição" a Israel. Tudo tão previsível, sr.Sharon...
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domingo, março 21, 2004

Cultura pelas ruas da amargura * 

Aqui há dias, no jornal Público, vinha uma sondagem sobre o estado da Cultura no nosso País. Segundo a autora do texto que acompanhava a referida sondagem, esta "revela hábitos culturais dos portugueses desanimadores: quase metade (45 por cento) dos inquiridos não foi a nenhuma actividade cultural desde as férias. Mais de metade não comprou nem leu nenhum livro. Surpreendente é o facto de quase um quarto dos licenciados não ler qualquer livro desde as férias." Santa descoberta, Sr.ª jornalista!
Numa perspectiva histórica, a primeira vez que o termo 'cultura' apareceu como um conceito de cunho antropológico foi na Alemanha, em 1793, no verbete Kultur do Dicionário Adelung: "A cultura é o aperfeiçoamento do espírito humano de um povo".
Com a Revolução Francesa e o aparecimento do ideal de cidadania, o termo Cultura será frequentemente associado à ideia de um sistema de atitudes, crenças e valores de uma sociedade e oposto à noção de Civilização, geralmente vista como seu complemento material, sua "base física".
Nos séculos ulteriores, muitos outros autores tentaram a definição de Cultura. Em todo o caso, e doutrinas aparte, tenho para mim que Cultura é, grosso modo, o património e actividade literária, artística e científica de um povo.
Se assim é, desde há muito que a Cultura, em Portugal, tem vindo a ser, criminosa e despudoradamente, espezinhada.
Este desprezo pela Cultura é culpa, não só dos seus espectadores e usufrutuários que teimam em vê-la como res non grata, mas sobretudo dos seus protagonistas. De facto, não há, em Portugal, salvo raríssimas excepções, pessoas com capacidade para fazerem e desenvolverem Cultura.
Os nossos escritores mais jovens raramente conseguem escrever meia dúzia de linhas sem um erro ortográfico ou construir frases sintacticamente correctas. O sujeito já não tem que condizer com o predicado. Os temas são escolhidos em cima do joelho e, não raro, sob pressão das editoras. O que interessa é vender. Já ninguém tem pachorra para ler Margarida’s Rebelo’s Pinto’s e afins.
Bons actores de teatro, nem vê-los. Agora a preocupação é ressuscitar o Parque Mayer e, com ele, o teatro de revista e os seus "fantoches", manifestamente moribundos. Já para não falar da nova pseudo-geração de actores, de cinema e telenovela, da nossa praça. São tão naturais e talentosos, não são?
Quanto à música, estamos entendidos. Emanuel para aqui, João Portugal para acolá. Nos entremeios venha o diabo e escolha. Depois queixam-se que a música portuguesa seja relegada para segundo plano. Queriam o quê?
Devo, no entanto, acrescentar que, a todo este fenómeno de Cultura do intestino grosso, não é alheia a colaboração e cumplicidade doentias da nossa comunicação social. Senão vejamos como vai a nossa televisão.
Segundo o relatório do grupo de trabalho sobre o Serviço Público de Televisão, "o canal público deve assegurar que a sua programação seja uma referência de qualidade e diversidade, garantindo o direito à informação e ao pluralismo e fomentando a divulgação da criação artística, científica e cultura nacional." Apesar de já ter encetado uma reforma ou outra, parece-me que, e se olharmos para as grelhas de programação da RTP, esta conclusão e, presumo, desejo deste grupo de trabalho, constituído por algumas pessoas por quem nutro uma admiração enorme, não passaram do papel. Os programazitos de família e os filmes, eternamente repetidos, não chegam para cumprir este desígnio.
O renovado canal "Dois", a estrear dia 5 de Janeiro, já vem corrompido de origem. Um canal, primordialmente, de serviço público, ao serviço dos interesses dos seus "parceiros da sociedade civil"? Está, irremediavelmente, condenado ao fenómeno dos lobbies, tão caro ao nosso País.
A SIC, criada com o intuito de fazer crer, como era por demais óbvio, que a RTP estava completamente obsoleta, não resistiu à pressão das audiências. O desejo de qualidade, seriedade e rigor profissional deu lugar a um chorrilho de imbecilidades televisivas, que vão desde o popularucho Big Show Sic ao verdadeiramente inútil Ídolos. Para sermos francos, a SIC não é já um canal de televisão independente, mas um pequeno departamento da Globo, tal é a sua diarreia de novelas brasileiras, que se arrasta penosamente horas e horas a fio.
Finalmente, a TVI. No que toca ao seu jornalismo, se é que se pode aplicar aqui o termo, é um misto de sensacionalismo saloio e atestado de parvoíce aos portugueses que, diariamente, assistem aos seus telejornais. Sinceramente, já ninguém tem paciência para as histerias da Júlia Pinheiro, nem para as lides casamenteiras da Teresa Guilherme, nesse abjecto de programa que é o Big Brother, onde, jamais, em nenhum outro programa se desprezou, de forma tão repugnante, a dignidade da pessoa humana, e muito menos para a parcialidade e analfabetismo crónicos da Manuela Moura Guedes. Vale pelos seus comentadores políticos, nada mais.
A imprensa escrita tem sido, felizmente e regra geral, uma excepção, onde o Público continua a ser uma incontornável referência. O seu modus faciendi tem sido invariavelmente positivo. É, fundamentalmente, nela que me refugio e que vou buscar o que verdadeiramente me interessa da realidade que me circunda.
Em todo o caso, "the show must go on" ao serviço de interesses "superiores" teimosamente instalados. Se a nossa Cultura é, de facto, isto, então deixem-me lá ser inculto!

* texto publicado na edição de Dezembro 03 do
Jornal Tribuna, Faculdade Direito U.P.
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Preliminares 

Aqui está o meu Blog, independentemente do que isto queira significar. Devo confessar que pensei bastante antes de criar um Blog, porque, de facto, por estar tão na moda, acarreta inúmeras responsabilidades pelas opiniões aqui expressadas e assumidas. Mas como tive, sempre, como bandeira assumir com frontalidade e confiança os ideiais e opiniões que tomo como certos, ainda que a minha certeza seja, por vezes, diferente da certeza dos outros, achei que, sem medo do tão actual e hipócrita politicamente correcto, seria uma ideia interessante e motivadora a criação de um Blog.
Falarei aqui de tudo e de nada, de Política e de Futebol, de Música e de Direito, de tudo e de nada e de tantas outras coisas.
Espero, pois, que me ajudem o engenho e a arte (que não abundam).

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